Depois de trazer para a ciência dezenas de espécies encontradas em grutas e locais subterrâneos em várias partes do mundo, a cientista e bióloga Sofia Reboleira descobriu mais uma espécie, agora tendo por ponto de partida o Twitter. Tudo se passou quando a caldense, actualmente professora na Universidade de Copenhaga (Dinamarca), observou no Twitter uma foto de um milpés norte americano partilhada pelo seu colega Derek Hennen, na qual notou a presença do fungo.
“Era um milpés do género Cambala, que são muito característicos pela disposição peculiar dos seus olhos”, explica à Gazeta das Caldas. De acordo com a cientista, este género de milpés só existe na América do Norte e, até à data, não se conheciam estes fungos a parasitar milpés neste continente.
“A descoberta era óbvia, só poderia ser uma espécie nova para a ciência”, revela.
Com o gabinete ao lado de uma das maiores colecções zoológicas do mundo, no Museu de História Natural da Dinamarca, Sofia Reboleira e o seu colega Henrik Enghoff observaram microscopicamente os exemplares desse género de milpés que estavam conservados na colecção, e confirmaram a descoberta. Tratava-se, efectivamente, de um “Troglomyces twitteri”, espécie que foi assim baptizada numa alusão à sua descoberta através da rede social Twitter. Este é um parasita que “depende do seu hospedeiro para sobreviver, uma relação de dependência similar à dos vírus relativamente aos seus hospedeiros”, explica, acrescentando que, contrariamente aos vírus, tem o seu próprio metabolismo e reproduz-se por si mesmo.
“Trata-se de um fungo ectoparasítico da ordem Laboulbeniales, que se encontra sobre três espécies de milpés que vivem na cordilheira dos Apalaches nos Estados Unidos da América”, concretiza.
Na universidade de Copenhaga, Sofia Reboleira também coordena um laboratório dedicado sobretudo ao estudo dos ecossistemas subterrâneos.
A descrição da nova espécie, que foi agora publicada na revista científica MycoKeys, contou com a colaboração dos professores Sergi Santamaría, da Universidade Autónoma de Barcelona, e Henrik Enghoff, da Universidade de Copenhaga, uma equipa que colabora frequentemente no estudo destes fungos em milpés e que desde 2014 já descobriu e descreveu mais de 23 novas espécies destes fungos que vivem exclusivamente em milpés.
GOSTO PELA BIOLOGIA SURGE NO SECUNDÁRIO
Sofia Reboleira, descobriu o gosto pela Biologia ainda no ensino secundário quando, em finais da década de 90, na Escola Secundária Raul Proença, assistiu a uma conferência sobre biodiversidade, pelo biólogo Jorge Paiva.
O interesse pela espeleologia começou no mesmo estabelecimento de ensino, quando integrou um núcleo dedicado a esta área. Desde então fez licenciatura e doutoramento em Biologia e a participou em expedições espeleológicas.
Em 2011 foi distinguida com a medalha de honra do município das Caldas e, antes, em Maio de 2008, a Federação Portuguesa de Espeleologia havia-lhe atribuído a primeira edição do Prémio de Mérito Cientifico Espeleológico pelo seu labor científico em prol do inter-associativismo. Actualmente é professora e coordena um laboratório no Museu de História Natural da Dinamarca, que é parte da Universidade de Copenhaga.






























